terça-feira, 4 de maio de 2010

Paris Match, 2010: ABBA. Money, Money, Money


Esta manhã Benny Andersson chegou em Estocolmo dirigindo o seu Toyota branco, um pouco sujo porque vive no campo, onde ele cria cavalos. Ele estava estacionando em frente ao edifício da gravadora Mono Music, situado na ilha sueca de Skeppsholmen, de frente para o Mar Báltico. Ele disse bom dia à multidão de mulheres bonitas que trabalham ao lado dele. Ele tomou seu café na cozinha e nos convidou para irmos para o seu escritório com vista para um parque. Em todos os locais haviam fotos, cartazes, pinturas modernas, mas nada da época do ABBA. Apenas em uma pequena tabela uma foto recente da loira Agnetha a sorrir e da morena Frida... que tornou-se loira.

"Eu tinha 20 anos quando conheci Björn (Ulvaeus) e já era bastante conhecido em nossa própria vizinhança. Uma noite, nos encontramos de carro em um cruzamento e eu tinha que tocar com os Hootenanny Singers (uma banda folk muito popular na Suécia, de 1963 a 1970). Eu estava indo sucedê-los no palco com o The Hep Stars (um grupo pop também popular). Ele nos convidou para comemorar a sua última noite de liberdade antes de sua partida para o serviço militar... E ao amanhecer estávamos em um jardim, cada um com um violão tocando músicas dos Beatles. Logo nos tornamos amigos. Quando conhecemos Agnetha (Fältskog) e Frida (Anni-Frid Lyngstad) nos tornamos amigos inseparáveis. Mesmo antes da criação do nosso grupo nós íamos a festas e viajávamos nas férias. E então começamos a compor juntos. Nós éramos ambiciosos, sempre dispostos a experimentar qualquer coisa nova." As lembranças se amontoam, algumas são agridoces. "Todo mundo pensa que nos divertíamos como loucos, quando trabalhávamos como bestas. Compor, gravar, lançar um álbum, promovê-lo, TV, shows e voltar à estaca zero para outras canções."

Hoje, porém, a música continua. No canto um teclado, no chão um acordeão, atrás de uma porta de vidro o aquário de um pequeno estúdio de gravação e no meio um piano de cauda. Sentado em um banquinho, Benny compõe por horas. Seus dedos galopam nos botões (do acordeão) sem terem perdido nada de sua flexibilidade. "Eu não sinto absolutamente nenhuma nostalgia. Eu continuo a minha jornada em muitos estilos diferentes. Eu também criei a Benny Andersson's Orkester, de tradição folk sueca. A música é necessária para o meu desenvolvimento, mas eu fico tão longe quanto possível da imagem que encarnei na época do ABBA. Estou muito orgulhoso do meu filho, Ludvig (fundador do grupo Ella Rouge), o qual ele assumiu e está produzindo o seu terceiro álbum."

No meio da tarde, Björn Ulvaeus juntou-se a nós tranquilamente perto da cidade velha, no Hotel Rival, propriedade de Benny. No andar de cima, em um dos 99 quartos, ele contempla a cidade da varanda e oferece doces e frutas que estavam em cima de um buffet. Descontraído e falante, ele confirmou estar investido na aventura "Mamma Mia!", a versão francesa do musical está prevista para outono. Mas ele admite passar a maior parte do seu tempo se divertindo, viajando e desfrutando de sua semi-aposentadoria. Amante de barcos, Björn possui uma ilha perto da capital. Todo dia ele corre 10 quilômetros e passa algumas horas com os seus quatro netos, que se tornaram a sua prioridade.


Certamente, as ex-estrelas disco parecem estar saudáveis e equilibradas. Será que compensaram os excessos acumulados durante os seus anos de fama? "Não totalmente! Desde o início éramos dois casais com filhos. Em Estocolmo as pessoas não se impressionam com o nosso sucesso. Para todos somos Benny e Björn. Isso certamente seria diferente se fôssemos um bando de rapazes, como os Rolling Stones! Mas nós tínhamos responsabilidades familiares que nos impedia de cometer erros. Não lembro de terem nos oferecido nenhuma droga, por exemplo. Não tínhamos inspiração para este tipo de loucura. Nós fomos muito sábios."

Algum arrependimento? Não, exceto talvez algumas roupas kitsch (extravagantes), entre as mais admiradas da exposição que deve passar por muitas cidades (ABBAWorld) após uma temporada em Londres, no início de 2010. "Eu era particularmente furioso. Lembro-me de um traje de Superman com botas de salto, uma capa vermelha e branca e um macacão azul coberto de lantejoulas, que impedia que eu me sentasse quando o vestia. Quando eu vejo as fotos fico terrrivelmente envergonhado: isto pode explicar melhor como dois héteros linha dura como Benny e eu nos tornamos ícones gays."

O legado do ABBA e o desenvolvimento internacional de musicais como "Chess", criado em 1986, e "Kristina", em 1995, continuam a ocupá-los muito. Para descontrair, eles aceitam fazer uma caminhada em torno do lago Mälaren, ainda que com grandes pedaços de gelo flutuando. Aos 63 e 64 anos (nota: Björn tem agora 65 anos), usando os mesmos tons de cinza - cabelos, barba, casaco, calças - Benny e Björn instintivamente adotam a mesma cadência. Eles tiram os seus óculos para apreciarem o sol. "Quando começamos a vender discos no mundo inteiro, a nossa maior felicidade era já não ter que fazer qualquer coisa para sobreviver. Nós finalmente tínhamos o controle criativo e completa liberdade. Claro, havia a Rolls-Royce e outros excessos, mas com o passar do tempo fiquei menos materialista", declara Björn.

No carro em que os acompanhei, os amigos continuaram uma conversa que nunca foi interrompida por mais de quarenta anos. Benny sempre fazendo Björn rir, que o acha "muito criança". Um fala, o outro escuta, sem o menor sinal de ego ou de rivalidade aborrecida. Felizes por viverem como se a sorte nunca fosse abandoná-los. Eles usam seus status de ícones com humor e lucidez. Caso seus nomes sejam mencionados como muitas vezes acontece quando se fala da Suécia, ou Estocolmo, eles nem sempre se tratam como ídolos. "Benny sempre foi mais confiante, mais iluminado, enquanto que eu sou um inquieto sempre em dúvida. Mas sei que ele é totalmente íntegro e é muito raro encontrar alguém com quem você se sinta confiante de maneira absoluta e constante. Quando penso no futuro, eu sei que Benny desempenhará um papel essencial". Eles têm outros projetos, Björn colocará letras em uma música de Benny. Em seguida nem mesmo uma crítica, uma censura? "Björn é como um irmão, ele não precisa se forçar a ser o que não é. Eu o tenho como ele é. E no que ele fizer, eu estarei do seu lado."

Por Christine Haas

Traduzido a partir de matéria publicada na coluna Musique
do site francês Paris Match em 25 de abril de 2010

2 comments:

Anônimo disse...

Não sentir nostalgia neste caso, seria saudades?"eu fico tão longe quanto possível da imagem que encarnei na época do ABBA". Sou uma fã que entende mas não aceita a ruptura do Abba .Não sei mas a sensação que tenho é de que as vezes eles parecem agir propositalmente no que se refere ao distanciamento do Abba e a importancia que as duas mulheres tiveram em suas vidas. Sem elas o Abba não teria existido e sem o ABBA eles talvez não seriam os senhores tão bem sucedidos, simpaticos e "equilibrados" que são. É o jeito sueco de ser? Sei não, mas é muita frieza que a alma feminina não aceita...Sejam felizes!!!
Valeu Lacerda. Abraços! Geisa.

Anônimo disse...

Concordo plenamente, Frida e Agneta também se fundiam em uma só pessoa, sem elas com certeza não existiria o ABBA e consequentemente todo esse sucesso. Mas como fã do ABBA e de todos os seus personagens com uma tendência a gostar mais da Frida pelo seu talento e beleza eu agradeço por eles terem existido. Hoje com 52 anos tenho muitas saudades. Bons tempos!
Sérgio de Belo Horizonte.

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