quarta-feira, 21 de setembro de 2011

19 anos de ABBA Gold

Dá para acreditar que quase duas décadas já se passaram desde o lançamento de ABBA Gold? Há exatos 19 anos, em 21 de setembro de 1992, a PolyGram deu início a um verdadeiro fenômeno que mudaria consideravelmente o mundo da música nos anos seguintes. O maior evento musical daquele ano foi o renascimento do ABBA, com o álbum duplo ABBA Gold – Greatest Hits. Foi a primeira coletânea lançada pela companhia após a aquisição dos direitos sobre o catálogo do ABBA, comprado da Polar Music dois anos antes.


Todas as coletâneas do ABBA haviam saído de circulação antes do lançamento de Gold. Somente os álbuns originais de estúdio (junto com a coletânea ao vivo de 1986) continuaram disponíveis no mercado. Justamente quando se pensava que o ABBA era nada mais que o eco de um distante passado, daquele tipo que é melhor deixar onde está, eis que um álbum com 19 canções impulsiona um revival.

Os fãs do ABBA não podem negar que, antes de ABBA Gold, estava cada vez mais difícil ouvir falar no grupo. Seus ex-membros levavam vidas completamente diferentes e distantes dos coloridos anos em que o grupo reinava na música pop. Apesar de Benny e Björn nunca terem parado de compor e produzir discos, o ABBA parecia uma referência longínqua naquele começo de década de 1990.

Com vendas que ultrapassam hoje os 28 milhões de cópias, é o álbum mais vendido do ABBA e um dos 40 discos mais vendidos de todos os tempos no mundo. Pode parecer estranho que o CD mais associado ao grupo tenha sido lançado 10 anos após a banda ter terminado. Mas o fato é que Gold fez mais para estabelecer a posição do ABBA como um dos grandes grupos pop mundiais do que qualquer outro álbum lançado durante a carreira do quarteto. Tanto que em 2008, pela segunda vez, Gold ficou em primeiro lugar nas paradas da Inglaterra, desta vez impulsionado pelo sucesso da versão cinematográfica de Mamma Mia! Proeza quase inimaginável para um grupo que nunca teve a menor pretensão de voltar...



O Gold lançado em 1992 incluía as versões editadas de Voulez-Vous e The Name of the Game, substituídas pelas versões originais a partir de 1999 e nos relançamentos subseqüentes. Essa primeira versão 1992 da coletânea ainda é a única disponível nos EUA. No entanto, a versão australiana trazia uma modificação na lista de canções, com três hits de muito sucesso por lá nos anos 70: Ring Ring, I Do, I Do, I Do, I Do, I Do e Rock Me, que substituíram Super Trouper, I Have a Dream e Thank You for the Music. Já na Espanha, essa primeira edição do Gold trazia as versões em espanhol de Chiquitita e Fernando no lugar das versões em inglês.

Em 1998 a Universal Music comprou a PolyGram. De lá para cá, várias edições comemorativas do álbum foram lançadas, em caixas especiais, com capas diferenciadas, detalhes e textos atualizados. Sempre com sucesso. É o segundo álbum a ficar mais tempo nas paradas de sucesso de todos os tempos (o primeiro é o Greatest Hits Vol.1 do Queen, com 490 semanas no Top 100; Gold totalizou 487 semanas na mesma lista). E ainda continua sendo, junto com o musical Mamma Mia!, a maior propaganda do quarteto. Gold também foi o CD do ABBA que mais vendeu no Brasil até hoje, com um milhão e oitocentas mil cópias, segundo estimativas de meados dos anos 2000.

Em dezembro de 2010, uma versão especial do Gold foi lançada, trazendo no mesmo pacote o CD com as canções e o DVD com os clipes. Os bônus do DVD incluem uma seleção de 5 clipes com imagem restaurada, mostrados com a tela dividida, para que o fã menos atento perceba com clareza as diferenças de qualidade entre o clipe original e o clipe remasterizado. O novo DVD Gold ainda apresenta uma raríssima versão de Money, Money, Money em desenho animado, feita por volta de 1977 pela produtora do empresário australiano Reg Grundy. A versão em cartoon foi vista por um breve período durante o apogeu do ABBA na Austrália, mas nunca havia sido divulgada e nem lançada no resto do mundo.

Com o sucesso contínuo do musical Mamma Mia!, em cartaz há mais de 10 anos no mundo todo (incluindo a Broadway) e a crescente geração de novos fãs do ABBA, pelo visto o álbum Gold ainda vai comemorar muitos outros aniversários.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

O Casamento de Muriel

Setembro é um mês de várias comemorações no universo “abbístico”. Foi neste mês em 1994 que dois filmes australianos estrearam no cinema e tiveram papel importante no revival do ABBA: Priscilla, a Rainha do Deserto (The Adventures of Priscilla, Queen of The Desert) e O Casamento de Muriel (Muriel's Wedding). Ambos adquiriram status de cult movies não apenas entre fãs do grupo, mas em escala muito maior mundo afora. Vamos falar do segundo, obrigatório não apenas para quem gosta do ABBA como também para os apreciadores do cinema alternativo de primeira, feito fora do circuito hollywoodiano.

O Casamento de Muriel é um filme sobre juventude, sonhos e frustrações. Não necessariamente nessa ordem. A história é uma comédia com toques de drama, mas tudo dosado de maneira hábil, sem artificialismos e sem nunca cair no dramalhão previsível. Muriel (Toni Collette) é uma jovem gordinha eternamente em busca aceitação social, principalmente entre as amigas, patricinhas esnobes e fúteis. Produto de uma família disfuncional, ela mora com o pai rude e corrupto, a mãe submissa e subserviente e um bando de irmãos inúteis que passam os dias sem fazer nada.

Em seu quarto, Muriel se refugia nas canções do ABBA – ela tem verdadeira obsessão pelo grupo –  e no sonho de se casar com um príncipe encantado. Mas isso não é o bastante. Após dar um calote no pai e fugir de casa, ela reencontra Rhonda (Rachel Griffiths), uma antiga amiga do colégio. As duas resolvem então recomeçar suas vidas em outra cidade.


Querendo sempre parecer “normal”, Muriel adquire uma compulsão por mentir e suas histórias viram uma verdadeira bola de neve. Ela se vê então envolvida em vários problemas, não só com a família mas também com a amiga. Tudo pontuado pelas músicas do ABBA, que expressam ao mesmo tempo a ingenuidade quase incontida de Muriel e sua melancolia, fruto de profunda carência afetiva. Para ela, a aceitação só será possível através de um casamento.

“Quando eu morava em Porpoise Spit, ficava sentada em meu quarto por horas, só ouvindo as músicas do ABBA”, conta Muriel à amiga Rhonda. “Mas desde que te encontrei e nos mudamos para Sydney, não escutei uma só música do ABBA. Sabe o que isso significa? Que minha vida é tão boa quanto uma canção do ABBA. É tão boa quanto Dancing Queen”.

O diretor P.J. Hogan teve dificuldade em arranjar alguém que financiasse um filme de enredo singelo e personagens que nada tinham daquela agitação dos filmes juvenis americanos. O patrocínio veio de uma empresa francesa e deu certo. O Casamento de Muriel foi sucesso não só em seu país de origem, mas também no mundo todo. Sem atores caros nem efeitos especiais, a única exigência de P. J. Hogan ao produtor foi a liberação dos direitos das canções do ABBA.

Mas por pouco Hogan não pôde usar as canções no filme. Ele escreveu e telefonou para Benny Andersson e Björn Ulvaeus incessantemente, sem obter resposta. Os dois estavam com receio de que sua música não fosse usada de maneira positiva. Finalmente, chegou-se a gastar uma fatia do baixo orçamento do filme com uma passagem Sydney – Estocolmo. Hogan foi até a Suécia com o roteiro do filme para convencer Benny e Björn de que não faria gozação com a banda. Pelo contrário.


A música do ABBA como pano de fundo em O Casamento de Muriel é muito positiva. Há uma cena maravilhosa, de pura catarse, em que Muriel e Rhonda, vestidas de Agnetha e Frida, apresentam uma divertidíssima versão de Waterloo. A atuação de Collette é tocante e lhe valeu o prêmio da Academia Australiana de Melhor Atriz, assim como Rachel Griffiths ganhou o de Melhor Atriz Coadjuvante. O filme também venceu na categoria Melhor Filme. Collette ainda foi indicada ao Globo de Ouro de Melhor Atriz de Comédia/Musical.

Para o papel-título, ela teve que engordar 18 kg em 7 semanas, com a ajuda de uma nutricionista. O esforço valeu a pena. Toni ganhou notoriedade e tornou-se uma atriz respeitada no mundo todo. Participou depois de dezenas de filmes de sucesso como O Sexto Sentido (1999), As Horas (2002), Pequena Miss Sunshine (2006), entre outros. A parceira Rachel Griffiths também ficou conhecida pelas séries de TV A Sete Palmos e Brothers and Sisters.

Bill Hunter, que faz o pai de Muriel, estava filmando Priscilla, a Rainha do Deserto no mesmo período em que filmava O Casamento de Muriel. A dificuldade era que cada um dos personagens exigia dele diferentes comprimentos de cabelo e barba, além de gravações em diferentes partes da Austrália.

O director P.J. Hogan também conquistou seu lugar cativo no cinema e dirigiu filmes como O Casamento do Meu Melhor Amigo (1997) e Os Delírios de Consumo de Becky Bloom (2009). Mas será sempre lembrado por O Casamento de Muriel, um dos filmes mais queridos dos anos 90, que acabou preparando o terreno para o sucesso do musical Mamma Mia!


O Casamento de Muriel
(Muriel’s Wedding)

Escrito e dirigido por  P. J. Hogan.
Austrália, 1994.
Elenco: Toni Collette, Bill Hunter, Rachel Griffiths, Jeanie Drynan, Gennie Nevinson, Sophie Lee, Roz Hammond, Belinda Jarrett, Gabby Millgate, Daniel Lapaine, Matt Day.
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