sexta-feira, 2 de julho de 2010

My Colouring Book: o retorno de uma estrela


O ano é 1962. Agnetha Fältskog está na cama em seu quarto em Jönköping. Ela tem 12 anos de idade. Uma vitrola amarela com alto-falantes toca "Mr. Lonely" de Bobby Vinton. Quando esta termina ela muda para "Bye Bye Birdie" ou "Save All The Kisses" de Ann-Margret. Quando ela não está deitada na cama ouvindo música, ela senta em frente ao espelho imitando e cantarolando Connie Francis ou um de seus outros ídolos.

"Para mim a minha adolescência foi marcada por muita música, em mim e ao meu redor. Se eu não estava escrevendo a minha música, eu ouvia ou cantava com uma orquestra de dança. Quando eu olho para trás vejo que isso tudo deixou uma profunda impressão em mim. A gratidão pelos artistas, as músicas e tudo o que eles me deram. Os sentimentos que tenho sem realmente pensar nisso, estar ciente disto. Agora eu entendo quando ouço esses artistas, todo o trabalho que está por trás destas canções aparentemente simples. Foi por isso que eu aprendi a cantar em inglês. Foi onde eu fundei os alicerces."

A sequencia foi uma carreira solo no final dos anos 60 com uma série de sucessos. Quando o ABBA foi formado no início dos anos 70, Agnetha Fältskog era uma artista bem estabelecida. Entre outras coisas ela teve grande sucesso como Maria Madalena na montagem sueca de Jesus Christ Superstar. Em 6 de abril de 1974 o ABBA venceu o Eurovision Song Contest em Brighton com "Waterloo". O resto é o que costumamos chamar de história.

Após a dissolução do ABBA, Agnetha Fältskog lançou três álbuns solo, Wrap Your Arms Around Me em 1983, Eyes of a Woman em 1985 e I Stand Alone em 1987. Parece ser coincidência que My Colouring Book, o primeiro álbum de Agnetha Fältskog em 17 anos, seja lançado exatamente 30 anos depois da grande consagração internacional.

My Colouring Book é uma viagem no tempo e no espaço. É inspirado pela nostalgia que Agnetha Fältskog exibe com entusiasmo irreprimido entre os seus favoritos pessoais. Esta é a trilha sonora de um tempo que passou, de uma vida anterior para a qual ela retorna com a ajuda das poderosas forças da música.

Agnetha Fältskog escutou milhares de músicas dos anos 60. Com a ansiedade e a ambição de uma pesquisadora histórica ela foi escavando nos arquivos de música popular e buscando as canções que abriram o mundo para uma garota que cresceu no cinturão bíblico sueco.

"No início eu procurei na minha própria coleção de discos, mas também fui a uma loja de discos em Hässelby especializada em música dos anos 60. Lá eu quase tive uma febre. Isto começou a vibrar em mim quando eu estava vasculhando os discos de Petula Clark, Rita Pavone, Cilla Black, Dusty Springfield e, claro, Connie Francis. Além de alguns rapazes como Paul Anka e Neil Sedaka, entre outros. Eu comprei muitos lá."

O projeto de My Colouring Book começou há quase quatro anos. Agnetha ouviu muitas canções, leu livros, estudou antigas listas de sucesso e diz que teve uma "diversão fantástica" durante o ano em que a pesquisa foi realizada.

"Eu não queria apenas canções muito famosas. Teria sido um pouco mais fácil pegar um grupo de sucessos das paradas. Eu escolhi as músicas que eram melhores e acabaram restando algumas. Eu tinha cerca de cinquenta ou sessenta canções que eu podia me ver gravando. Depois nós experimentamos um pouco mais de vinte músicas e agora ficamos com treze".

Inicialmente o chamado quinto membro do ABBA - o engenheiro de som e produtor Michael B. Tretow - trabalhou no projeto. Infelizmente, ele foi acometido por uma doença grave e então ficou difícil. As gravações pararam por um ano ou mais, mas Micke, que é forte e teimoso, está de volta forte. Após Tretow, Dan Strömkvist entrou na produção e Agnetha diz que trabalharam muito bem. A prova disso é que Agnetha, Anders Neglin e Dan Strömkvist constam como produtores de My Colouring Book.

"Nós queríamos trabalhar sem stress, sem pressão. Esperamos que no álbum possa ser ouvida uma calma, segura e acolhedora atmosfera em torno das gravações. Nós gravamos na minha produtora, então não trabalhamos com uma gravadora até o fim."

As gravações foram feitas no lendário estúdio Atlantis em Estocolmo, onde o ABBA iniciou a sua carreira. O piano de Benny Andersson, em que ele tocou os acordes que hoje fazem parte da história do pop, ainda está no estúdio. Um ambiente perfeito para My Colouring Book.

"É claro que o fato de podemos fazer o álbum no estúdio Atlantis foi muito divertido. Mas eu me senti nervosa em começar tudo de novo. Eu tinha construído algum tipo de medo do microfone e ele levou de três a quatro semanas antes de ceder. Eu estava muito estressada quando cheguei na frente do microfone. Houve alguma luta com a minha voz antes de começar. É como um cano enferrujado, mas de repente ele desobstrui. E uma vez acontecendo foi divertido e eu senti que isto deveria ser trabalhado."

Agnetha é cautelosa em salientar que os arranjos e a produção foram feitas com respeito e veneração pelos originais. Todos os instrumentos em My Colouring Book foram tocados por músicos verdadeiros.

"Anders (Neglin) e Danne (Strömkvist) fizeram um trabalho notável, fazendo todos os arranjos e trabalhando com o som. Eu tinha a ideia para a produção, a visão artística em geral, como entrelaçar tudo junto e como eu queria que soasse, mas eu não sou uma pessoa técnica. Fazer parte da produção foi muito divertido. O trabalho de estúdio é o meu lado forte, ali eu tenho a paciência que definitivamente não tenho em outras coisas na vida", diz Agnetha sorrindo.

"Eu quis gravar este álbum em parte porque tenho recebido muitas cartas ao longo dos anos em que as pessoas escrevem que sentem falta da minha voz. Minha motivação inicial foi o amor pelas canções dos anos 50 e 60, onde há muitas, muito fortes melodias e letras pungentes. Muitas gravações desta época são fantásticas. Eu me sinto muito feliz por ter sido uma jovem quando a música popular explodiu. Com este álbum eu gostaria de atuar como uma intermediária das minhas experiências com estas canções e artistas. É uma homenagem a eles e ao que eles me deram."

Agnetha Fältskog sobre as músicas do My Colouring Book:

A Fool Am I (Peter Callander)
"No álbum tem duas músicas de Cilla Black, esta e o single. Há arranjos muito especiais em suas canções, um pouco dos Beatles, já que que George Martin a produziu. Eu fiquei presa nessa porque é muito explosiva e dramática."

The End of the World (Arthur Kent & Sylvia Dee)
"Gravada por Skeeter Davis, e eu tinha cantado com a orquestra de dança em que eu estava nos anos 60. A canção com a qual você experimentou histórias de amor trágicas na adolescência", ela diz rindo.

Fly Me To The Moon (Bart Howard)
"Eu tenho vontade de gravar as músicas com total respeito com os originais, que é a versão do artista que ouvi pela primeira vez. Fly Me To The Moon eu ouvi com a Doris Day e esta autêntica canção é importante para o álbum inteiro. Aqui está um som que eu gosto, com muitos strings. Eu a toquei antes para Anders e disse que queria esta característica no que iríamos fazer."


I Can’t Reach Your Heart (Ted Murry & Benny Davies)
"Para mim é difícil escolher uma música de Connie Francis, suas baladas são tão boas quanto conseguem ser. Acabamos ficando com essa."

If I Thought You’d Ever Change Your Mind (John Cameron)
"Nós escolhemos esta como um single porque é representativa da coletânea completa. Nós decidimos por esta no início mesmo que houvessem muitas opções de single neste álbum. Este se destacava um pouco o tempo todo e eu acho que é uma canção muito bonita. São baladas como esta que eu gosto e que mexem comigo, e talvez este seja o tipo de canção que eu posso interpretar melhor."

Love Me With All Your Heart (Carlo Rodriguez Rigual, Mario Rodriguez Rigual & Carlos Martinoli)
"Este é um exemplo de como nós trabalhamos com as canções. Petula Clark tem um verso em espanhol na música e eu queria mantê-lo. Eu não falo espanhol, mesmo que eu tenha cantado algo em espanhol com o ABBA. Então nós tivemos Ana Martinez conosco no estúdio. Agora eu tinha uma intérprete do espanhol para que a parte pudesse realmente ser correta. Há muitos ouvidos por aí ouvindo e é importante que eu não cante errado."


My Colouring Book (John Cander & Fred Ebb)
"Dusty Springfield é uma grande favorita, eu gosto muito dela. Perry Como gravou essa também, mas com letras um pouco diferentes."

Past, Present And Future (Arthur Butler, Jerry Leiber & George Francis Morton)
"Isso foi uma coisa divertida. Uma que eu tinha esquecido quando comecei a minha busca por músicas. Ela surgiu em uma coletânea com grupos de garotas e logo que a ouvi tive uma sensação especial no meu corpo. Essa é muito original e eu lembrei o quanto eu gostava quando a ouvia com as Shangri-Las nos anos 60. Demorou um pouco antes de poder gravá-la da maneira certa, de modo que se tornasse verossímil. Uma coisa é cantar, mas uma coisa totalmente diferente é falar durante uma canção."

Remember Me (Chris Andrews)
"Sandie Shaw, a cantora descalça, talvez mais conhecida por 'fantoche em uma corda'. Ela tem uma maneira especial de cantar, e é um dos meus modelos entre muitos."

Sealed With a Kiss (Gary Geld & Peter Udell)
"Este é o tipo de música que realmente se fixa dentro de mim. Parece que eu vivi com ela a minha vida inteira. Brian Hyland".

Sometimes When I’m Dreaming (Mike Batt)
"No início eu achava que o próprio Art Garfunkel havia composto essa. Mas ela foi escrita por um compositor inglês, Mike Bett. Boa letra, linda. Foi uma sensação muito forte para mim."

What Now My Love (Gilbert Becaud, Pierre Delanoe & Carl Sigman)
"Esta é a última canção do álbum. Ela é desesperada e trágica. Uma música que existe em muitas versões diferentes, eu a ouvi primeiro com Petula Clark."

When You Walk In The Room (Jackie DeShannon)
"Jackie De Shannon. É divertido com uma canção uptempo. Fiquei me perguntando se o álbum era muito trágico, se era muito amor e dor, mas eu tenho disposição para isso. Sempre tive. Hoje eu posso dar um sentido à letras das canções de uma maneira diferente."

***

As primeiras impressões da vida são gravadas com uma força particular e clareza. Isso se aplica especialmente à música. Portanto este álbum é uma celebração da música que eu ouvi no passado. A respeitosa homenagem aos artistas que me inspiraram e que deixaram profundas impressões em minha alma e em meu coração. Esta é a trilha sonora de um tempo perdido, para o qual eu retorno com as forças poderosas da música. Eu gostei dessas músicas por toda a minha vida e elas ocupam um lugar especial no meu coração. Meu esforço foi em recriar essas canções com todo o respeito pelos originais. My Colouring Book é a minha forma de demonstrar gratidão para com as músicas, os artistas e tudo o que eles me proporcionaram. Obrigada Jackie DeShannon, Doris Day, The Shangri-Las, Connie Francis, Petula Clark, Sandie Shaw, Cilla Black, Rita Pavone, Sylvie Vartan, Dusty Springfield, Demis Roussos, Simon & Garfunkel, Skeeter Davis, Cliff Richard, Paul Anka, The Beatles, Beach Boys, Neil Sedaka, Brian Hyland, Grace Kelly, Bing Crosby, Frank Sinatra, Elvis Presley e muitos e muitos outros. Vocês estão todos dentro do meu coração e estarão lá para sempre. Para minha família, meus amigos, a todos os ouvintes ao redor do mundo e a todos os envolvidos neste projeto - obrigada por me inspirar a fazer isso - Eu amo vocês.









My Colouring Book foi gravado entre fevereiro de 2003 e janeiro de 2004 e lançado no dia 19 de Abril de 2004. O álbum vendeu cerca de 500 mil cópias, em 2004 recebeu o disco de platina no Reino Unido (60 mil cópias) e na Suécia somente na primeira semana vendeu 64 mil cópias.

A seguir desempenho do álbum e seus respectivos singles nas paradas:

My Colouring Book (álbum):
Suécia - #1
Finlândia - #2
Alemanha - #6
Holanda - #11
Reino Unido - #12
Suíça - #17
Noruega - #25
Áustria - #25
Bélgica - #38
Austrália - #50
Irlanda - #57

If I Thought You'd Ever Change Your Mind (single):
Suécia - #2
Reino Unido - #11
Noruega - #28
Holanda - #31
Bélgica - #45
Suíça - #75

When You Walk In The Room (single):
Suécia - #11
Reino Unido - #34


Fonte: Agnetha.se e ABBA Charts

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