sexta-feira, 26 de março de 2010

Times, 2010: ABBA reunido? "Sim, e por que não?"


Pete Paphides do The Times encontrou Benny e Björn durante os ensaios de "Kristina" e produziu esta excelente nova entrevista. O tema do ABBA ser um dos ícones gays surgiu, assim como o fato de Björn achar que a música "Poker Face" de Lady Gaga é "fantástica" (já Benny nunca ouviu falar dela) e espere por isto... Frida esteve em um estúdio de gravação recentemente!

Uma reunião? Não fale ao ABBA sobre uma reunião. Exceto, é claro, que isto não seja tão difícl. Benny Andersson e Björn Ulvaeus estão cientes do protocolo. "Não se preocupe, eu sei sobre o que você tem que perguntar", diz Andersson, um cara de bebê de 64 anos, quando me viu fazendo rodeios sobre o assunto. A última vez em que eu fiz isto, inquieto em relação à questão, em maio de 2002, Ulvaeus disse categoricamente: "Não existe dinheiro nenhum no mundo que possa me convencer a fazer isto."

Desde então eles têm refutado polidamente os pedidos de retorno, não só de fãs que não eram nascidos quando ABBA implodiu, mas de promotores que, de acordo com Ulvaeus, ofereceram somas "loucas" para uma turnê de despedida - no caso $ 1 bilhão (£ 600 milhões). Cada vez que o pensamento dos "olhares nos rostos da platéia quando eles percebessem que eles tinha envelhecido" significaria que há muito tempo o ABBA havia enfrentado o seu Waterloo.

Oito anos mais tarde não há nenhuma razão para acreditar que Ulvaeus e sua experiência como compositor há quatro décadas poderiam reagir de outra forma. E ainda, em um momento extraordinário no final do nosso encontro, uma percepção se avivou de que pode haver uma maneira de transformar a tão esperada reunião em uma realidade.

Entretanto, obrigados como eles são quando se trata de falar sobre os seus anos de pop stars, esta não é a razão pra eles estarem aqui. Andersson e Ulvaeus estão em Londres supervisionando os ensaios para a estréia britânica do seu projeto mais ambicioso. Os fãs do ABBA podem querer ter uma constatação de Kristina quando vier para o Albert Hall no próximo mês. Diante disso, o épico de 2.000 páginas de Vilhelm Moberg sobre os emigrantes suecos no século 19 não é o mais óbvio competidor para receber um tratamento musical teatral. No entanto, em 1995, quando Kristina estreou em Malmö, os críticos suecos o felicitaram com um fervor que eclipsou qualquer coisa que Andersson e Ulvaeus haviam conseguido com o ABBA.

O que o público britânico vai fazer com isto é outra questão. "Cortamos o tempo do espetáculo de três horas para duas", disse Ulvaeus. "E convidei Herbert Kretzmer, que fez Les Misérables, para traduzir as letras para o inglês".

Obrigado Kretzmer - embora nem mesmo ele tenha podido fazer justiça a uma das poucas piadas na versão original, uma piada bilíngüe baseada na similaridade da palavra "velocidade" e o termo sueco para catavento. "É provavelmente o melhor", disse Ulvaeus, aos 65 anos com quase o mesmo corpo que tinha quando apertou o macacão de cetim na noite de triunfo do ABBA no Eurovision. "Nós não sonhamos em soltar uma piada no Albert Hall."

Seja como for, destaques recentemente reeditados como "Burial at Sea", "I Am Reconciled to My Fate" e "Miscarriage" confirmam que Mamma Mia 2 não seria muita coisa nos cartazes. Para Andersson é uma chance de mostrar ao público britânico que ele e Ulvaeus chegaram lá. "Uma razão para nunca termos nos preocupado em falhar na América", diz ele, "é que o povo inglês nos tratam como seus." Ulvaeus acrescenta, no entanto, que "isto nos estragou. Com o Top of the Pops você poderia chegar a todos da Grã-Bretanha. Mas na América você alcança um público minúsculo fazendo bobagens em programas de TV que nós não queremos fazer de forma alguma."

Eu citei que alguns membros do grupo mostram um pouco mais facilmente a relutância do que os outros. Qualquer um que persista em acreditar que as loiras se divertem mais tenha cuidado ao ler a autobiografia de Agnetha Fältskog de 1997, As I Am. "Ninguém que tenha experimentado estar diante de gritaria, ebulição, multidões histéricas", escreveu ela, "poderia evitar sentir calafrios de cima a para baixo na sua coluna. É uma linha tênue entre o êxtase da glorificação e a ameaça de risco."

Isto era realmente ruim? Como seu ex-marido e pai de seus dois filhos, você pode achar que Ulvaeus poderia saber, mas ele parece incerto. "Ela não parecia descontente na época. É estranha a forma que a história às vezes toma reescrita e se torna verdade".

Ele não está falando apenas sobre Fältskog aqui. Esse revisionismo, ele sente, se estende também para o lugar que o ABBA se manteve na memória coletiva. "Não são apenas as pessoas querendo ouvir as canções. Isto tem mais a ver com as pessoas que querem estar em uma atmosfera que é fictícia. A atmosfera dos anos 70, que o ABBA representa mas onde não está enraizado na verdade. Por exemplo, nunca pensamos em nossos sonhos mais loucos que seríamos ícones gays."

Eu coloquei para ele que Fältskog poderia ter tido algo a ver com essa coisa toda de serem ícones gays. "Mas por quê?" se opõe Ulvaeus. "Ela é uma mulher muito heterossexual. Eu sei."

Não é assim como isto funciona, digo-lhe. "Como é que funciona, então?", ele pergunta. Bem, ela não olha para trás com um olhar feliz. Você poderia dizer que estava sofrendo por dentro, mas ela continuou em nome do showbiz. Ulvaeus permanece indeciso: "Hmm. Pode ser por causa das roupas e do Eurovision".

Às vezes, a perspectiva de Ulvaeus sobre o legado do ABBA é tão desconhecida que é grande o esforço para não saltar sobre a mesa do café, onde seus bolinhos de peixe acabaram de ser deixados, e agarrá-lo. Como ele e Andersson puderam escrever enérgicos hinos ao desejo físico, como Gimme! Gimme! Gimme! (A Man After Midnight) e Lay All Your Love on Me e não achar que isto possa combinar bem com os seus fãs gays? "Nós não percebemos isso. Nós só estávamos lançando outra música, isso é tudo."

Ao ouvir os álbuns do ABBA em ordem cronológica o efeito é algo semelhante a ter o seu interruptor emocional puxado lentamente para baixo. Com a estrutura do álbum de 1980 Super Trouper escrita após o divórcio de Ulvaeus e Fältskog, a música do grupo mudou para espelhar as suas situações pessoais. The Winner Takes It All foi escrita com a cumplicidade de um vinho tinto entorpecido de auto-piedade. "Normalmente não é uma boa idéia escrever quando você está bêbado", diz Ulvaeus, "mas tudo saiu desse jeito. Na hora em que escrevi 'Os deuses podem lançar seus dados' a garrafa estava vazia."

No momento em que eles gravaram sua última canção juntos, The Day Before You Came, "nós realmente estávamos melancólicos", diz Andersson. A canção poética do ABBA parece um mistério pop duradouro como a identidade do sujeito de You're So Vain de Carly Simon. O que aconteceu depois que esse cara "veio"? Ulvaeus sorri enigmático, mas ele não diz. "Você desconfia disso, não é? A música está insinuando algo. Você pode dizer que nesta canção estávamos nos esforçando para o teatro musical."

"Tivemos Agnetha atuando a parte da personagem na canção. Em retrospectiva, pode ter sido grande a mudança para muitos fãs do ABBA. A energia tinha acabado."

No restante da década de 1980, Ulvaeus considerou que "a nossa música estava fora (de forma) para as pessoas que olhavam para ela". No início de 1990, quando bandas de tributo como Björn Again apareceram, elas apenas agravaram o sentimento inquieto na mente de Ulvaeus de que as pessoas estavam rindo do ABBA. "Eu ouvia que eles falavam com sotaque sueco nas músicas, o que me deixou chateado. Mas então eu conversei com as pessoas que foram aos shows. Elas disseram que tiveram uma sensação feliz e que as pessoas estavam se divertindo imensamente."

Anos depois, claro, sabemos que a ironia é apenas o primeiro passo no caminho para a reabilitação comercial e de crítica. Não se trata de ironia que o ABBA Gold já tenha vendido 28 milhões de cópias - graças à passagem do Mamma Mia! da Broadway a Hollywood - que finalmente os fixaram na América.

Quando Brian Higgins - o produtor-roteirista por trás de Girls Aloud - montou sua fábrica de sucessos Xenomania, ele disse que "SOS era a canção marcante que nós aspirávamos alcançar melodicamente". "Curiosamente", diz Ulvaeus, "também foi a canção que Pete Townshend mencionou quando ele veio até a mim em um restaurante uma vez. Ele disse que achava que era a melhor música pop já escrita".

Se desafiados a fazê-lo, Andersson e Ulvaeus poderiam sentar e escrever uma canção como essa agora? "Eu não tenho certeza", diz Ulvaeus. "Olhe para a estrutura de Poker Face de Lady Gaga. Isso poderia ter sido escrito nos anos setenta, mas a forma como a música é posta em conjunto é diferente. Você gosta dessa? Eu adoro."

"Eu não a ouvi", diz Andersson.

"Oh, isto é fantástico!" diz Ulvaeus. "Você é uma pessoa única."

Em 2010, nossa percepção do que é uma boa canção pop coincide mais com as qualidades encontradas na música do ABBA do que em qualquer outro grupo. Se alguém não "pegar" ABBA eles parecem estar enraizados em uma era menos iluminada. Alguns anos atrás, sugeri a Roger Waters que o álbum "Animals" de Pink Floyd guardava certas semelhanças temáticas com o último álbum do ABBA, The Visitors. Despeitado com a idéia, Waters bufou: "Desde o primeiro 'meu' em Waterloo eu sou um ex-ouvinte".

"Bem, ele perdeu um monte de coisas boas", diz Andersson. "Pelo menos ele saber que ela começa com "meu"- já é alguma coisa. Dark Side of the Moon não é ruim. Eles fizeram alguns discos maravilhosos. "Ulvaeus parece um pouco mais apagado pelo comentário de Waters. "É um pouco pretensioso, não é? Essa atitude de: Eu não podia descer tão baixo".

Além de Earls Court, há uma milha daqui, a presença do ABBA World confirma que o arrogante ex-líder do Pink Floyd se encontra em uma minoria que está encolhendo. Tal é o amor pelo ABBA que milhares de fãs por semana estão pagando £21 cada para ver uma exposição que, entre as possibilidades de karaokê e a réplica do helicóptero de Arrival, parecem se divertir às voltas com os desafios cotidianos - a recriação do escritório do seu empresário lembra isto - que geraram canções pop imortais como Dancing Queen e Take a Chance on Me. "É uma oportunidade para limpar algumas coisas do sótão", diz Andersson. "Se eu já vi isto antes? Não. Eu vivi isso pela primeira vez."

Em seguida perguntei se ele gostaria de viver isto novamente. "Provavelmente não. Mas as imagens de Fältskog no ABBA World, falando com carinho surpreendente sobre a sua contribuição para os maiores sucessos do grupo, estão frescas na minha mente. As reuniões podem ser feitas de todos as formas diferentes. Uma lucrativa turnê mundial pode estar fora de questão, mas e sobre algo mais discreto? Eu considero a idéia de uma reunião íntima, uma apresentação privada para convidados e familiares, talvez com uma pequena orquestra, com foco em alguns materiais mais "maduros" dos útlimos álbuns. Isto tudo poderia ser filmado e os direitos licenciados para emissoras de TV ao redor do mundo."

Aludindo à última música do Super Trouper, The Way Old Friends Do, a primeira respota de Ulvaeus é aparentemente em tom de brincadeira: "Poderíamos cantar The Way Old Folks Do!" Andersson, ao contrário, parece ser mais profundo em pensamento. "Sim, por que não?", ele concorda. Como se trabalhasse com logística, ele acrescenta: "Eu não sei se as garotas cantam algo mais. Eu sei que a Frida (Anni-Frid Lyngstad) esteve (recentemente) em estúdio."

E em seu álbum solo mais recente, há cinco anos, Fältskog estava com uma voz excelente. "Se você pode cantar, você pode cantar", ele concorda. Então, um pouco depois diz "Não é uma má idéia, na verdade."

Infelizmente, porém, como a porta para uma reunião abre sempre tão ligeiramente, assim foi mais uma vez. Andersson e Ulvaeus tiveram que correr de volta para o Albert Hall, onde os ensaios estão em andamento. Em duas semanas, Kristina terá a sua estréia. E depois? Como diz a canção: "If you change your mind... (Se você mudar de idéia...)"

***

Publicado no site Times em 26/03/2010

1 comments:

Anônimo disse...

Adoro seu blog; sempre estou a procura de matérias daquela época que eu era uma menininha cantante e ja amava ABBA (inesquecível).
Quanto a esta matéria , seria simplesmente fantástico e sinto frente às últimas entrevistas dos componentes que alguma coisa vai acontecer...
Estamos aguardando ANSIOSAMENTE.
Abraços, muito obrigada!
Geisa Helena

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...