domingo, 13 de setembro de 2009

"Um retorno do ABBA não está em nossos planos"

Benny Andersson, um dos "B's" do ABBA, passou o verão inteiro no arquipélago báltico da Suécia e, em seu primeiro dia de volta ao estúdio, não está com disposição para trabalhar. O estúdio fica à beira da água em uma pequena ilha no centro de Estocolmo, e é onde Andersson escreve a maioria de suas músicas. O espaço arejado é decorado com belas pinturas, mobiliário moderno de bom gosto e portas desenhadas com um moderno padrão folclórico - tudo para criar um ambiente acolhedor e sereno.

"Eu pretendo escrever novas músicas, mas admito que não estou me sentindo inspirado no momento. Eu não escrevi nada o verão inteiro", diz um bronzeado Andersson com um sorriso relaxado. Esta descontração poderá mudar em breve, já que o outono promete ser agitado para o homem por trás da maioria das músicas do ABBA e para o compositor Björn Ulvaeus - o outro "B" e mais antigo amigo e colaborador de Andersson. Eles têm concertos marcados na Grã-Bretanha e Estados Unidos, planos para uma continuação do sucesso musical Mamma Mia! e a abertura de uma exposição, ABBAWORLD, em que eles não estão diretamente envolvidos, mas poderão comparecer.

Inicialmente ele falou sobre um concerto em tributo ao ABBA, "Thank You For The Music", no Hyde Park, Londres, no dia 13 de setembro, incluindo as cantoras Kylie Minogue, Chaka Khan, Lulu, Elaine Page e o elenco do Mamma Mia" da West End. Benny também estará no palco com o sexteto sueco Orsa Spelman ou Orsa Fiddlers Ensemble, que toca música folk sueca.

Mas são os dois concertos no Carnegie Hall de Nova York nos dias 23 e 24 de setembro que parecem mexer mais com a emoção do experiente músico, que se apresenta desde a infância. Entitulado "Kristina," o concerto conterá uma seleção do seu musical com Ulvaeus, "Kristina från Duvemåla". "Eu sei que estarei nervoso", disse Andersson. "Estou curioso para ver a reação da platéia." Andersson descreve o musical mais como "uma ópera moderna" e diz que este foi o trabalho mais difícil e mais assustador que já fez. Não só porque levou cinco anos para ser escrito ou que abranja três horas de música, mas também porque é baseado no épico nacional sueco "The Emigrants", do autor e historiador sueco Vilhelm Moberg. Andersson leu os quatro volumes da obra pela primeira vez aos 19 anos de idade e foi agarrado por seus protagonistas, o agricultor Karl Oskar e sua esposa Kristina, e os seus dramáticos destinos.

Os livros prosseguem com as dificuldades do casal em meados da década de 1800 ao retirarem sua família de uma Suécia atingida pela miséria para a América - uma decisão tomada por um milhão de suecos ao mesmo tempo. "É uma sensação muito especial poder tocar essa música em Nova York. Este foi o lugar onde a maioria dos primeiros imigrantes chegaram. Milhões de americanos compartilham com a história desses personagens", diz Andersson, insinuando que o musical poderá ter uma produção da Broadway, assim como Mamma Mia! e Chess - seu primeiro musical com Ulvaeus.

Enquanto Andersson e Ulvaeus têm vários projetos em mente, Andersson é inflexível ao afirmar que uma reunião do ABBA não está entre eles. "Não! Isso não está acontecendo. Nunca se deve dizer nunca, mas não está!", diz ele, sacudindo a cabeça em resposta à pergunta que tem perseguido os ex-membros do ABBA apesar de suas negações consistentes. "A simples razão é que nenhum de nós quer fazer isso", disse ele, acrescentando que faz questão de proteger o legado do ABBA para "torná-lo único."

Em vez disso, o próximo grande projeto para Ulvaeus e Andersson após os concertos "Kristina" poderá ser escrever novo material para um seguimento do Mamma Mia!, disse ele, ressaltando que não seria uma simples seqüência, mas um "tipo de continuação livre." Enquanto eles ainda não decidem quanto ao formato ou o tema, Andersson diz que ficou positivamente surpreendido pela adaptação cinematográfica do Mamma Mia!, e não descartou um outro filme ou uma continuação do mesmo tema. Questionado sobre as fontes de inspiração, Andersson apenas balança a cabeça. "A inspiração é superestimada. Tudo isso flui com a disciplina. Tenho que continuar trabalhando nisso, e se eu tiver sorte ela virá. Então eu tenho cerca de um ou dois dias de fluxo. Depois ela vai embora de novo", ele sorri. Felizmente, o belo piano preto Yamaha de pé em seu estúdio pode lembrar eletronicamente que ele foi tocado e pode voltar a ser tocado por ele.

Andersson diz que ouviu todos os tipos de música, principalmente clássica, e especialmente Johann Sebastian Bach, cujo alcance e profundidade são "inesgotáveis". Enquanto as suites de violoncelo de Bach estão entre as peças musicais favoritas de Andersson, ele se recusa a mencionar qualquer música contemporânea que gosta porque diz que não está atualizado com a cena pop atual. Em vez disso, a música mais próxima ao seu coração é o folk sueco, diz ele, com o rosto iluminado. Andersson ganhou seu primeiro acordeão quando tinha seis anos de idade - um instrumento clássico para a música folk sueca que tanto seu avô quanto seu pai tocaram e ensinaram a outros.

"Penso que é algo muito bonito fazer parte dessa tradição folclórica. Sinto-me grato por fazer parte - uma pequena parte - de algo maior", diz ele, referindo-se ao ato de manter um patrimônio cultural vivo. Para Andersson, a música folk sueca é expressiva e representa o clima nórdico de longos, duros, escuros invernos e curtos, claros verões e as condições físicas e emocionais das pessoas que vivem sob suas conseqüências. "Acho que nela há uma compreensão da música para nossas condições aqui. Você pode sentir que tipo de vida as pessoas têm tido aqui nos bosques e florestas escuras - uma vida difícil", diz ele, pensativo. Na verdade, ele especula, talvez tenha sido a influência da música folk sueca e sua ampla gama de felizes e também melancólicas melodias que fizeram a música do ABBA ressoar em tantas partes do mundo. "É engraçado. Sou sempre perguntado porque eu acho que o ABBA tem um apelo tão amplo - a partir de Galápagos até a China e Egito. Por que é que funciona em todos esses lugares diferentes? Eu não sei, mas talvez uma parte disso tenha a ver com a melancolia por trás da alegria ".

A vontade de Andersson de se sentir parte de um contexto maior pode explicar porque ele afirma se sentir mais amigável com o coletor de impostos do que a maioria dos multi-milionários. Ele gosta assim como os homens ricos de passatempos como criação de cavalos de corrida e a direção do elegante Hotel Rival em Estocolmo, mas insiste que não se importa em pagar os altos impostos da Suécia. "Sim, eu pago muitos impostos, mas eu gosto da idéia de devolver à sociedade", diz ele, acrescentando que ficou dinheiro bastante depois de ter pago as pesadas quantias.

Outro exemplo de seu engajamento social foram as eleições para o Parlamento Europeu em junho, quando ele doou um milhão de coroas suecas para o partido político sueco "Feministiskt Initiativ" - o primeiro partido feminista do mundo. Os votos do partido desapareceram misteriosamente dos locais de votação, o que levou Andersson a financiar uma campanha para informar as pessoas como elas poderiam votar no partido de qualquer maneira. No início ele preferiu permanecer anônimo para não ofuscar a causa, mas quando foi revelado mais tarde que ele era o doador não se importou.

Em contraste, ele se importou em ser "usado" na eleição presidencial americana no ano passado. Na tentativa de atrair os eleitores, os candidatos John McCain e Barack Obama lançaram seu top dez de músicas favoritas. A lista de McCain incluiu os sucessos do ABBA "Dancing Queen" e "Take a Chance on Me". "Nós não gostamos nada disso", disse Andersson com uma careta de aversão, acrescentando que ele e Ulvaeus reclamaram para campanha de McCain.

Pressionado para escolher suas três canções favoritas do ABBA, ele citou "Dancing Queen", "The Winner Takes It All" e "The Day Before You Came", que descreve a história da vida de uma mulher mundana antes dela conhecer seu amante. Andersson diz que gostou dela pela sua história forte, uma música especial "atípica" e pelo fato de ter sido a última canção do grupo. Refletindo sobre o poder da música em um contexto sócio-político, Andersson considera a possibilidade de casar sutilmente a música com uma discussão sobre a igualdade entre homens e mulheres - uma causa que ele mantém próxima ao coração. Por exemplo, Mamma Mia! de fato tem uma forte mensagem feminista, mas vestido com o cavalo de Tróia da música do ABBA tornou-se amplamente popular. "Talvez devêssemos continuar nesse tema. Acho que estou começando a me sentir inspirado."

Fonte: ABC News (08/09/2009)

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