sexta-feira, 16 de setembro de 2011

O Casamento de Muriel

Setembro é um mês de várias comemorações no universo “abbístico”. Foi neste mês em 1994 que dois filmes australianos estrearam no cinema e tiveram papel importante no revival do ABBA: Priscilla, a Rainha do Deserto (The Adventures of Priscilla, Queen of The Desert) e O Casamento de Muriel (Muriel's Wedding). Ambos adquiriram status de cult movies não apenas entre fãs do grupo, mas em escala muito maior mundo afora. Vamos falar do segundo, obrigatório não apenas para quem gosta do ABBA como também para os apreciadores do cinema alternativo de primeira, feito fora do circuito hollywoodiano.

O Casamento de Muriel é um filme sobre juventude, sonhos e frustrações. Não necessariamente nessa ordem. A história é uma comédia com toques de drama, mas tudo dosado de maneira hábil, sem artificialismos e sem nunca cair no dramalhão previsível. Muriel (Toni Collette) é uma jovem gordinha eternamente em busca aceitação social, principalmente entre as amigas, patricinhas esnobes e fúteis. Produto de uma família disfuncional, ela mora com o pai rude e corrupto, a mãe submissa e subserviente e um bando de irmãos inúteis que passam os dias sem fazer nada.

Em seu quarto, Muriel se refugia nas canções do ABBA – ela tem verdadeira obsessão pelo grupo –  e no sonho de se casar com um príncipe encantado. Mas isso não é o bastante. Após dar um calote no pai e fugir de casa, ela reencontra Rhonda (Rachel Griffiths), uma antiga amiga do colégio. As duas resolvem então recomeçar suas vidas em outra cidade.


Querendo sempre parecer “normal”, Muriel adquire uma compulsão por mentir e suas histórias viram uma verdadeira bola de neve. Ela se vê então envolvida em vários problemas, não só com a família mas também com a amiga. Tudo pontuado pelas músicas do ABBA, que expressam ao mesmo tempo a ingenuidade quase incontida de Muriel e sua melancolia, fruto de profunda carência afetiva. Para ela, a aceitação só será possível através de um casamento.

“Quando eu morava em Porpoise Spit, ficava sentada em meu quarto por horas, só ouvindo as músicas do ABBA”, conta Muriel à amiga Rhonda. “Mas desde que te encontrei e nos mudamos para Sydney, não escutei uma só música do ABBA. Sabe o que isso significa? Que minha vida é tão boa quanto uma canção do ABBA. É tão boa quanto Dancing Queen”.

O diretor P.J. Hogan teve dificuldade em arranjar alguém que financiasse um filme de enredo singelo e personagens que nada tinham daquela agitação dos filmes juvenis americanos. O patrocínio veio de uma empresa francesa e deu certo. O Casamento de Muriel foi sucesso não só em seu país de origem, mas também no mundo todo. Sem atores caros nem efeitos especiais, a única exigência de P. J. Hogan ao produtor foi a liberação dos direitos das canções do ABBA.

Mas por pouco Hogan não pôde usar as canções no filme. Ele escreveu e telefonou para Benny Andersson e Björn Ulvaeus incessantemente, sem obter resposta. Os dois estavam com receio de que sua música não fosse usada de maneira positiva. Finalmente, chegou-se a gastar uma fatia do baixo orçamento do filme com uma passagem Sydney – Estocolmo. Hogan foi até a Suécia com o roteiro do filme para convencer Benny e Björn de que não faria gozação com a banda. Pelo contrário.


A música do ABBA como pano de fundo em O Casamento de Muriel é muito positiva. Há uma cena maravilhosa, de pura catarse, em que Muriel e Rhonda, vestidas de Agnetha e Frida, apresentam uma divertidíssima versão de Waterloo. A atuação de Collette é tocante e lhe valeu o prêmio da Academia Australiana de Melhor Atriz, assim como Rachel Griffiths ganhou o de Melhor Atriz Coadjuvante. O filme também venceu na categoria Melhor Filme. Collette ainda foi indicada ao Globo de Ouro de Melhor Atriz de Comédia/Musical.

Para o papel-título, ela teve que engordar 18 kg em 7 semanas, com a ajuda de uma nutricionista. O esforço valeu a pena. Toni ganhou notoriedade e tornou-se uma atriz respeitada no mundo todo. Participou depois de dezenas de filmes de sucesso como O Sexto Sentido (1999), As Horas (2002), Pequena Miss Sunshine (2006), entre outros. A parceira Rachel Griffiths também ficou conhecida pelas séries de TV A Sete Palmos e Brothers and Sisters.

Bill Hunter, que faz o pai de Muriel, estava filmando Priscilla, a Rainha do Deserto no mesmo período em que filmava O Casamento de Muriel. A dificuldade era que cada um dos personagens exigia dele diferentes comprimentos de cabelo e barba, além de gravações em diferentes partes da Austrália.

O director P.J. Hogan também conquistou seu lugar cativo no cinema e dirigiu filmes como O Casamento do Meu Melhor Amigo (1997) e Os Delírios de Consumo de Becky Bloom (2009). Mas será sempre lembrado por O Casamento de Muriel, um dos filmes mais queridos dos anos 90, que acabou preparando o terreno para o sucesso do musical Mamma Mia!


O Casamento de Muriel
(Muriel’s Wedding)

Escrito e dirigido por  P. J. Hogan.
Austrália, 1994.
Elenco: Toni Collette, Bill Hunter, Rachel Griffiths, Jeanie Drynan, Gennie Nevinson, Sophie Lee, Roz Hammond, Belinda Jarrett, Gabby Millgate, Daniel Lapaine, Matt Day.

3 comments:

Joelma disse...

Desde a primeira vez que assisti o casamento de Muriel (1998)gostei muito.
Principalmente por causa do gosto dela pelo Abba.
Vou assistir hoje novamente.

Fernando disse...

Vale lembrar que a Toni Collette fez umas das minhas séries preferidas de sempre: United States of Tara!

Mas enfim, bom post! E espero que venha outro sobre Priscila, a Rainha do Deserto =)

Unknown disse...

É a Segunda vez que assisto e foi como a Primeira: Emocionante! Um filme marcante e introspectivo. Toni Collette foi perfeita! E o que se deu dos outros atores?

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