terça-feira, 23 de junho de 2015

Björn fala sobre novos projetos e o cenário atual da música

Björn Ulvaeus foi um dos vários convidados da Brilliant Minds, conferência sobre música, tecnologia, criatividade e inovação que aconteceu em Estocolmo, a "capital criativa do mundo", de 8 a 13 de junho deste ano.


Fundado pelos empresários Ash Pournouri e Daniel Ek (diretor executivo da Spotify, serviço de música comercial em streaming), o simpósio reuniu alguns dos mais inovadores artistas, músicos, políticos e empresários do mundo.

Além de ex-integrante do ABBA e um dos maiores compositores contemporâneos, Björn é destaque no mundo de hoje como um bem sucedido empresário, graças ao sucesso global do musical Mamma Mia!, que já faturou mais de U$ 2 bilhões em mais de 40 países e foi visto por mais de 55 milhões de pessoas ao redor do mundo. Björn conversou com o jornalista Andrew Hampp, em Estocolmo, durante a Brilliant Minds. 

O Museu do ABBA já existe há dois anos. Houve algum tipo de resistência a se tornar parte de algo assim, já que todos os quatro membros do ABBA continuam vivos?
Pode apostar! (risos) Foi meio estranho fazer parte do seu próprio museu, por isso houve muita resistência da minha parte e dos outros três também. Mas a cidade queria muito e a ideia parecia algo muito bom para Estocolmo. E eu topo tudo que seja bom para Estocolmo. Então acabamos dizendo sim sem pensar muito a respeito. Mas de repente tudo se tornou muito real quando disseram “Temos esse prédio, está sendo construído agora em Djurgården, o lugar perfeito pra ele, mas sei que é muito perto da sua casa."


E também me dei conta do seguinte: como seria se eu tivesse que ouvir comentários sobre o museu, do tipo "não é grande coisa, né?" ou "eu esperava mais dele". Porque eu não ouviria isso só por um ano, mas para o resto da minha vida. E foi quando decidi me envolver pessoalmente no projeto. E não foi tão dificil como pensei, porque assim que comecei a botar a mão na massa, comecei a me ver como uma figura histórica da música pop, o cara dos anos 70 com as roupas engraçadas, e dali em diante, contei a história dele. Bem distanciado de quem eu sou hoje. Então foi uma forma de me libertar disso. E depois tudo passou a ser só prazer, na verdade. Quisemos dar um senso de honra, mostrar que não estávamos nos levando tão a sério assim, mas com entusiasmo, um pouco de analógico misturado ao digital. Mas teve um efeito de proximidade para as pessoas. Os estrangeiros nos veem como algo além do céu. E quando você anda pelo museu, tem a chance de ver como nosso começo foi humilde, bem pé no chão, e eu queria que as pessoas tivessem esse sentimento.


O que foi mais gratificante após a inauguração do museu e do Music Hall of Fame sueco?
Acho que a parte mais gratificante será talvez no futuro, quando o local se tornar a House of Music da Suécia. Está prestes a virar, mas queremos que seja a manifestação física da celebração da música da Suécia, qualquer que seja ela. É nisso que estou trabalhando no momento, para que talvez, no próximo ano, se houver seminários ou conferências, eles possam ser feitos nessa espécie de casa da música de Estocolmo. Vamos ver. Também é muito gratificante saber o quanto as pessoas curtem o museu. Nunca ouvi nennhum comentário de insatisfação. 

Hoje você fez a abertura do Brilliant Minds, simpósio que celebra os empreendedores suecos. Quando estava formando o ABBA, no começo dos anos 70, época em que a música sueca não tinha a menor relevância no cenário mundial, já se sentia um empreendedor?
Não, nem um pouco. Quando desfizemos o grupo, em 1982, pensei que tudo terminaria ali. Nunca passou pela minha cabeça, entende? Era tão distante do que pensávamos na época, que estaríamos sentados aqui falando disso. Mas acho que existe algum verdade nisso - que, antes do ABBA, não havia nada. 

Bonecos do ABBA, em tamanho real, no museu do grupo
Que um selo musical americano, por exemplo, viria até a Suécia para ouvir algo feito aqui,era totalmente impossível. E agora é completamente diferente. Acho que tivemos algo a ver com isso. É claro que houve outras pessoas ao longo das décadas seguintes. Mas muita gente viu que era  possível que compositores, cantores e produtores suecos fizessem sucesso fora da Suécia. Porque a mentalidade era 'não vale a pena nem tentar, é impossível'. E isso mudou, e sempre muda quando se tem um modelo que abre caminho. Então tenho muito orgulho disso.

E existem artistas ou produtores suecos, hoje, que você sente que carregam o legado deixado pelo ABBA?
De certa forma, Max Martin, claro. E também varios compositores - eles têm uma maneira diferente de compor hoje em dia, mas ainda assim são compositores que fazem parte da cena musical atual, como fazíamos nos 70. E outros continuarão.


Você ainda compõe?
Eu e Benny [Andersson] ainda escrevemos uma ou outra canção sim. É que, depois do ABBA, escrevemos mais musicais do que canções soltas. Pode ser que ainda tenhamos outro musical em nós, nunca se sabe. Após o ABBA, escrevemos Chess, que tinha One Night In Bangkok, e depois escrevemos mais uns dois musicais - Mamma Mia!, claro. E falando em Mamma Mia!, estou envolvido em um projeto muito interessante. Tem uma area de diversões em Estocolmo chamada Gröna Lund, onde há um antigo restaurante [Tyrol] que estamos transformando em uma espécie de taberna grega. Assim como no Mamma Mia!, em que há uma grande festa de casamento no final, quero recriar aquele tipo de clima alegre enquanto as pessoas se divertem comendo e bebendo. Elas estarão dentro de uma história em tempo real. Não se trata de Mamma Mia! 2, é totalmente diferente, mas é contado do mesmo jeito e é meio interativo. Por isso é Mamma Mia! The Party, que vai ser inaugurado em Estocolmo, em janeiro.


E com certeza você viu a reação das pessoas quando anunciou o projeto na internet, todos dizendo "Uau, será que vai ser finalmente a renunião do ABBA?". Você esperava esse tipo de especulação?
Bem, não sei se essas especulações vão ter fim um dia (risos). Mas é bom ser o único grupo que nunca se reuniu de novo. Porque acho que somos, em tese, o único conjunto que poderia ter voltado e nunca quis.

Você vê grupos como os Rolling Stones e The Who hoje e pensa "Não quero voltar a fazer turnês"?
Pode apostar. Sempre vejo como estou contente por não ter que estar lá. Mas para esses outros artistas, isso se tornou um estilo de vida, creio. Porque nunca fomos de fazer muitas turnês, na verdade. Passamos, no total, uns 6 meses em turnê, em um período de 10 anos. Para nós, tunrês não significavam nada. Sinto um enorme alívio por não ter que pensar nisso. Posso pegar meu barco essa tarde para passear pelo arquipélago... é maravilhoso.

Com certeza você reconhece a importância de ter documentado aqueles poucos shows ao vivo que fizeram. O ABBA também gravou mais de uma dúzia de clipes musicais, bem antes do surgimento da MTV.
Sim, mas fazer turnê era algo que nunca gostamos. Era como reproduzir algo que já tínhamos feito. Eu estava sempre tão focado nas próximas gravações que, depois de alguns shows, cantar as anteriores se tornava bem chato. 

Com Mamma Mia! encerrando sua temporada na Broadway, em setembro, Mamma Mia! The Party é uma espécie de continuação do musical pra você?
Poderia até ser o próximo capítulo, mas não tem nada a ver com o encerramento do musical na Broadway. Mas se o projeto funcionar, não vejo por que não poderíamos levá-lo a outros lugares. Vamos ver. Mas é uma experiência, assim como o Mamma Mia! também começou como uma experiência. Ninguém sabia - isto é, 55 milhães de pessoas ou algo assim já assistiram, é alucinante. 


Como você avalia o cenário da música digital para os músicos, atualmente?
Acho que os serviços de streaming, como falei em minha palestra hoje, YouTube, por exemplo, é um deles e deveria pagar do mesmo modo que assinantes especiais pagam pelo Spotify. O formato digital não decolou para os compositores. E outra coisa que acho que os assinantes premium deveriam fazer é o seguinte: por exemplo, sou um assinante premium e clico em algum artista 50 vezes em um mês, por 10 dólares. Enquanto isso, a filha do vizinho clica 800 vezes no Justin Bieber e ela também paga 10 dólares. E todos somos colocados num mesmo pacote. Isso signifca que os artistas que eu escuto ganham tão pouco, em comparaçao ao Justin Bieber. Isso é muito injusto na minha opinião. Por que tem que ser diferente de quando saíamos para comprar um CD? Aquele dinheiro ia diretamente para as pessoas que tinham feito o CD. Deveria ser do mesmo jeito no streaming. Me sinto bem desapontado em relação a isso.


1 comments:

Anônimo disse...

Parece interessante o projeto do Mamma Mia Party, porém não não está explicado os detalhes do seu funcionamento. É muito formidável que o ABBA primou em concentrar energia mais na parte criativa da sua obra (composição, ensaios, clips) que na execução de seu trabalho pelas turnês. Isso porque queriam ser grandes artistas e ao mesmo tempo manter o seu estilo de vida na Suécia. Abraços! Ass: Gilmar Ramom

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