O ABBA completa agora em abril 40 anos. Na verdade, o quarteto surgiu um pouco antes, mas o grupo, com esse nome - e já com a ideia de grupo - começou sua jornada de sucesso no dia 6 de abril de 1974. Nessa data, venceram o Eurovision Song Contest, que naquele ano foi realizado em Brighton, no litoral sul inglês. (Dificilmente algum fã do ABBA desconhece o Eurovision: trata-se de um concurso anual de canções transmitido pela televisão, com participantes de vários países europeus).
Mas o post de hoje não é sobre nenhuma curiosidade ou lançamento do ABBA. Quero apenas compartilhar algumas lembranças com outros fãs. Há pouco mais de 20 anos, comecei minha jornada pessoal como fã do grupo. Tinha 14 anos. Foi antes do Natal de 1993, quando vi na TV o comercial da coletânea ABBA Gold. Eram só alguns segundos de imagens e músicas, mas me chamaram a atenção de forma tão intensa que imediatamente pedi o disco de Natal. Na época, CD ainda não era algo comum no interior de Minas, onde eu morava. De fato, o compact disc estava entrando no mercado brasileiro, mas não havia se popularizado por completo ainda.
Naquele Natal, ganhei de presente meu LP duplo ABBA Gold (uma pequena fortuna, já que discos duplos, ainda mais lançamentos, eram caros na época). Lembro bem da minha alegria ao abrir o presente. Comecei a ouvir os discos e, durante mais ou menos uns 8 meses seguidos, SÓ ouvi ABBA Gold. Dia e noite, sem parar. Encantei-me pelas fotos dos encartes, pelas melodias e pelas vozes, já que naquela época eu ainda não falava inglês e, portanto, não entendia as letras das canções.
Mas o que eu realmente não sabia, na minha total ignorância em relação ABBA, era que aquela coletânea já estava fazendo sucesso nos quatro cantos do mundo, desde que fora lançada no ano anterior. Chegando com um pequeno atraso no Brasil pela Globo/Polydor, ABBA Gold também vendeu feito água aqui.
Nos anos seguintes, me dediquei com afinco a estudar e aprender inglês. Era a única forma de conhecer a história daqueles quatro suecos, já que era quase impossível obter qualquer tipo de informação sobre o ABBA (ainda mais em português!) naquele começo dos anos 90, ainda pré-internet.
Saía batendo de porta em porta, à procura de pessoas que, porventura, tivessem algum disco velho do ABBA. Procurava incansavelmente em sebos, visitava cidades vizinhas, arquivos de rádios, me cobria de poreira dos pés à cabeça, na caça de alguma pista do grupo. Era muito esforço para pouco resultado. Encontrava disquinho aqui, uma coletânea ali, mas tudo muito difícil. Nessa época já me chamavam de "o menino do ABBA", num tom meio piadista. "Por que diabos esse menino vive atrás desse grupo esquisito e esquecido?" era o pensamento das pessoas.
Vale lembrar que no final dos anos 80/começo dos 90, ABBA era considerado algo musicalmente condenável, execrável e já tido como morto e enterrado. Mas aos poucos o sucesso de ABBA Gold foi se alastrando pelo mundo e contagiando artitas da época como Erasure e Kurt Cobain. Diretores australianos começaram a produzir filmes que usavam trilha sonora com canções do ABBA. De brega, o grupo virou cult e começou a ser reverenciado por uma nova geração de fãs.
Aqui no Brasil a coisa nunca foi muito significativa. De forma geral, a mídia brasileira sempre tratou o ABBA com displicência, superficialidade e deboche. Se na Europa o grupo voltou a ocupar a primeira posição das paradas de sucesso - graças ao ABBA Gold - aqui no Brasil, apesar das vendas crescentes, o grupo permanecia algo para ser apreciado entre quatro paredes, às escondidas mesmo.
Coloquei anúncios em diversas revistas, buscando outros fãs do ABBA, e comecei a me corresponder com outros admiradores do grupo e a trocar material. Com o surgimento da internet - e a evolução gradual do meu inglês - comecei a ter acesso a muitas informações. Fui traduzindo textos, juntando recortes, fazendo pesquisas... Ao longo dos anos, me dei conta de que havia acumulado material suficiente para escrever uma biografia do grupo. E escrevi, meio por hobby mesmo, mas sem grandes expectativas.
Mais de uma década depois, em 2007, um editor de Curitiba, Sandro Bier (a quem serei sempre grato pela confiança e interesse) apostou no projeto e publicou meu primeiro livro, Made in Suécia - O paraíso pop do ABBA. Pela primeira vez, uma biografia do ABBA era publicada em português. O fato me encheu de orgulho, claro. Sempre achei estranhíssimo que nunca houvesse existido no Brasil um só livro sobre o ABBA.
Apesar de todas as dificuldades, sou extremamente feliz pela conquista e por ter prestado minha pequena homenagem ao quarteto cuja música me acompanha desde a adolescência. Se a repercussão do livro aqui no Brasil não esteve à altura do que o ABBA merecia, os resultados também não foram desastrosos. O que eu pretendia era transformar meu projeto em realidade. Meu objetivo foi alcançado. E isso eu devo também a vários outros fãs do ABBA que, ao longo desses anos, se tornaram meus amigos e me ajudaram. O livro é também resultado da generosidade e amizade dessas pessoas.
A revista Rolling Stone publicou uma crítica positiva e a embaixadora da Suécia, Annika Markovic, me convidou para um jantar de gala em homenagem aos 50 anos da Copa de 1958. A jornalista sueca Åsa da Silva Veghed também foi convidada para divulgar seu livro sobre música brasileira. Foi um intercâmbio no mínimo curioso: um brasileiro divulgando a música sueca e uma sueca divulgando a música brasileira.
Em 2011, lancei meu segundo livro, Mamma Mia!, pela Panda Books. Dessa vez, a editora me encomendou uma versão 'turbinada' e ampliada do livro anterior, com atualizações, algumas correções e mais informações. Foram meses de pesquisas e escrita, até o projeto ser concluído. E pela segunda vez, uma biografia em português do ABBA foi escrita por mim. No ano seguinte (finalmente!) um livro sobre o ABBA foi traduzido no Brasil. Apesar da demora, fiquei feliz por ter 'aberto o caminho'. E este ano, um outro livro traduzido (do biógrafo oficial do ABBA, Carl Magnus Palm) está sendo prometido para o mercado brasileiro.
Aos poucos, os brasileiros começam a ter mais contato com o ABBA de verdade. As matérias, antes rasteiras e jocosas, começam a dar espaço a informações mais precisas e elogiosas. Como o quadro de Nelson Motta para o Jornal da Globo do último dia 28 de março:
"Houve um tempo em que gostar do ABBA, daquelas músicas bregas, daqueles cabelos e roupas ridículos, pegava muito mal em qualquer papo musical. Mas o tempo fez justiça às ótimas melodias, aos ritmos alegres e aos excelentes vocais do ABBA e garantiu à banda um lugar de destaque no mundo do pop globalizado." (Nelson Motta)