Em um período, digamos, turbulento e incerto para o ABBA, Frida não se fez de rogada: tratou de alçar vôos fora dos domínios do grupo. Não que eles soubessem do fim do quarteto, afinal todos os fãs do ABBA sabem que o término do grupo nunca foi planejado e nem formalmente anunciado. Mas o desgaste já podia ser notado. E todos tinham um desejo em comum: mudar o foco de seus trabalhos.
Em fevereiro de 1982, exatamente três décadas atrás, Frida se aventurou em busca de novas experiências musicais. E elegeu Phil Collins como seu mentor nessa empreitada. Começava a nascer o primeiro disco solo em inglês de Frida, Something’s Going On, e também o primeiro projeto solo de um membro do ABBA lançado mundialmente.
No livro The Phil Collins Story, de Johnny Waller, o próprio Phil relata com detalhes como foi a colaboração com Frida. “Quando trabalho com alguém, gosto de me envolver totalmente no projeto. Acho que o que muita gente quer é o som peculiar da minha bateria. Elas acreditam que, se trabalharem comigo, conseguirão imprimir minha bateria característica em sua música. Mas quero que seja uma coisa tão minha quanto da pessoa também”.
Esse foi certamente o caso com Frida. Ela e Phil pareciam predestinados a se unirem em sua dor mútua após os respectivos divórcios. “Ambos passamos por relacionamentos desfeitos”, explicou ela naquela época. “Acho que por isso eu sabia que trabalharíamos juntos tão bem. Eu estava familiarizada com o trabalho de Phil porque minha filha gosta dos discos dele e os ouve bastante. Percebi que estávamos em sintonia total um com o outro”.
Mas o que motivou Phil a trabalhar com Frida? “O que ouvi foi que havia algumas pessoas interessadas em mim para produzir seus discos, mas Frida – por alguma razão – se tornou a mais importante”, explica Phil no livro. “Digo importante porque pensei ‘o ABBA, sabe como é, um grupo muito famoso e conhecido por seus discos pop e todos dizem que eles são produtores de clássicos – e aqui está um deles que me quer como produtor de seu álbum solo. Isso só pode valer a pena’.”
Devido à reputação do ABBA – sem falar na voz brilhante de Frida – este foi um desafio que Phil não poderia recusar e então viajou para o Polar Music Studios em Estocolmo, onde se envolveu totalmente no projeto do início ao fim: selecionando material, tocando bateria na pré-gravação das faixas, criando o som geral com o engenheiro de som Hugh Padgham e mixando as versões finais – sete semanas no total.
Esse álbum foi sua primeira marca registrada em termos de produção mesmo, segundo ele próprio – “pela primeira vez eu tinha um grupo de pessoas cuidando das finanças, tive que contratar os músicos – era um projeto bem mais sério. Embora haja muito dinheiro naquela organização, ainda assim foi um álbum com limites de orçamento bem definidos. Quer dizer, o ABBA... eles valem uma fortuna. Falar apenas que eles são tão grandes quanto a Volvo é simplificar demais – o lucro dos investimentos deles é de 200 milhões de coroas suecas por ano, isso sem contar com a música!”
O fato pode ser ilustrado por um episódio clássico ocorrido quando Phil e Hugh tiraram um dia de folga e aproveitaram para pegar uma sauna. “Então perguntamos à Frida onde poderíamos ir e ela disse que havia um prédio antigo realmente bacana no centro de Estocolmo, com casas de banho a vapor. Dissemos: ‘Mas a gente não é sócio’ e ela respondeu ‘Tudo bem, o prédio é meu!’.”
A tarefa inicial de Phil era sentar com Frida para escolher o material a ser usado no álbum. Foi uma parceria inusitada para ambos. Para Frida, foi uma mudança alucinante ficar com uma responsabilidade daquele tamanho após tantos anos de sucesso com o ABBA, construídos com disciplina rígida e fechada.
“No esquema de trabalho do ABBA”, explicou Phil Collins, “nunca perguntavam nada a Agnetha ou à Frida, elas apenas recebiam os comandos de ‘Cante assim! Isso, está ótimo! Obrigado!’. Então para alguém como eu chegar e dizer para Frida ‘Em qual tom você quer cantar esta nota? Quer algo mais rock ou está achando acelerado demais?’ – na primeira semana ela respondia ‘Não sei, o que você acha?’, mas eu dizia ‘Escute, este é o seu álbum, baby, não o meu’. E após duas ou três semanas ela começou a pegar o espírito da coisa”.
Auxiliado pelo engenheiro Hugh Padgham, Phil trabalhou para representar a voz clássica de Frida em um contexto de rock moderno: “Minha tendência foi optar pelo som que eu achava que cada canção deveria ter em particular. Há muitas faixas no álbum de Frida que soam bem diferentes umas das outras”.
Parecia que Frida procurava se estabelecer mais como uma cantora contemporânea de rock do que como uma vocalista feminina no estilo de Barbra Streisand ou Diana Ross, por exemplo. Como Phil explica, “Ela estava se espelhando em Pat Benatar, Kim Wilde, que não tinham uma voz tão boa quanto a dela – Frida tem uma voz fantástica, ela abre a boca e canta com perfeição – e via tudo isso acontecendo ao redor dela, queria fazer parte”.
O álbum foi gravado durante fevereiro e março de 1982 e lançado em setembro daquele ano. Embora a parceria de Phil e Frida tenha obtido um sucesso parcial, algumas faixas mostraram do que ela era capaz como cantora, principalmente no pop clássico de I Know There's Something Going On – com o estilo de bateria típico de Phil Collins – que se tornou hit em diversos países e deu ao álbum o nome de Something's Going On.
O clipe de I Know There's Something Going On foi filmado em Londres, em meados de 1982. Frida fez o papel de uma mulher que descobre ter sido traída pelo marido/namorado. O vídeo foi filmado em várias locações diferentes: Primrose Hill Photographic Studios, Stringfellows Discotheque, Fulham Film Studios (cenário do quarto), Little Venice e Covent Garden. O diretor foi o ingles Stuart Orme, responsável por videoclipes de diversos outros artistas como In The Air Tonight (1981), You Can't Hurry Love (1982) e I Don't Care Anymore (1983) de Phil Collins, Saving All My Love For You (1985) de Whitney Houston e muitos outros.
A revista revista alemã Bravo, daquele mesmo mês, trouxe uma extensa matéria sobre o disco solo de Frida, onde ela explicou: “Após o lançamento do último álbum do ABBA, The Visitors, eu tive um tempo livre e resolvi aproveitá-lo para gravar um disco solo”. De fato ela convidou Phil Collins, baterista e vocalista do grupo Genesis, no começo deste ano para ajudá-la no projeto solo. Ela decidiu após ouvir incessantemente o álbum solo de Phil, Face Value: “Este é o cara que estou procurando”. Mas produzir o álbum de Frida não foi o bastante para o mago do Genesis. Ele ainda atuou como baterista, compositor e cantor na faixa Here We'll Stay, dueto com Frida. Além disso, ele ainda arrebanhou compositores renomados como Russ Ballard e Bryan Ferry.
O livro The Phil Collins Story esmiúça ainda mais o resultado daquele trabalho:
Apesar do indiscutível destaque, o álbum de Frida é irregular no que diz respeito às suas canções. Segundo o próprio Phil, algumas faixas - especialmente Here We'll Stay, foi um dueto difícil dos dois. “Bem... foi um lapso total de gosto da minha parte! Acho que ficou terrível”, admite Phil humildemente. “O motivo de termos escolhido essa canção foi que ela era ótima para usarmos os clarins e ideal para destacarmos a banda toda. Frida disse ‘Talvez você possa cantar nela comigo também’ e na época eu não havia imaginado essa faixa como um dueto. Mas acabei concordando”.
Embora se arrependa dessa canção, Phil guarda o álbum como um todo na memória com carinho. “Gostei muito de fazê-lo porque para mim foi muito bom ter responsabilidade por toda a parte de produção - foi a primeira produção propriamente dita que fiz em termos de cuidar da parte burocrática e das canções. E agora eu sei que sou capaz de fazer isso, coordenar todas as fases da produção - lidar com as pessoas e com o dinheiro... Fiquei muito feliz com a forma como tudo saiu. Encarei como um grande desafio muito prazeroso”.
“Meu álbum não é uma cópia do ABBA”, explicou Frida. Ela até gravou algumas partes dele no Air Studios em Londres, evitando qualquer tipo de envolvimento com o ABBA. Nesse ponto a dupla Frida e Phil conseguiu fazer um som completamente diferente do ABBA. Ouvindo o compacto I Know There's Something Going On, percebe-se que a voz de Frida lembra apenas vagamente a Frida do ABBA.
De sua parte, Frida não tem dúvidas sobre os méritos do álbum. “Phil é um produtor tão bom e um cara muito legal. Eu jamais poderia ter feito esse álbum sem ele. Nós fizemos planos para trabalharmos juntos novamente em breve”. Infelizmente Phil já estava comprometido com outros projetos, incluindo sua carreira solo, embora tivesse dito que ficaria mais do que contente em trabalhar de novo com Frida.
Principais fontes de pesquisa:
The Phil Collins Story
Johnny Waller
Londres: Zomba Books, 1985
Bravo, September 1982: Frida is having a bit on the side!
http://www.abbaarticles.blogspot.com/2011/12/bravo-september-1982-frida-is-having.html
Site www.raffem.com
Frida 1982-1983
http://www.raffem.com
http://www.raffem.com
4 comments:
Nossa, O Phil se envergonha da minha canção favorita do álbum! Ainda que eu prefira a versão solo da Frida, ele se referiu à canção de um modo geral pelo o que eu entendi... hahahaha Adorei o texto, ri muito com a parte "Tudo bem, o prédio é meu", quem pode pode!
Abraços!
Karine
Lady Kate morreria de inveja... Hahahahaha
parabéns amigaum continue c dedicando ao abba, é bom saber q há fans assim q nem tu. vlw!! sucesso!
Tenho 60 anos e cresci a ouvir os Abba,eles foram a minha companhia musical durante estes anos todos,ainda hoje é a musica que mais gosto de ouvir
Postar um comentário