Email enviado pelo blog à redação da Revista Época no dia 18/09/2008 referindo-se à matéria "ABBA, tão brega que virou clássico", publicada em 12/09/2008.
O texto na íntegra:
Em nome dos fãs brasileiros da banda ABBA, citada em artigo escrito pelos jornalistas Luís Antônio Giron e Marianne Piemonte, gostaria de esclarecer alguns pontos que ficaram distorcidos na referida matéria.
Primeiramente, gostaria de corrigir um erro grave: os Beatles não venderam 4,5 bilhões de discos, suas cifras atuais segundo o Guiness Book aproximam-se de 1,5 bilhão de discos, e quem está em primeiro em vendas ainda é Elvis Presley (com mais de 1,5 bilhão de cópias). Quanto ao ABBA, em 2004 haviam atingido a marca de 370 milhões de discos, e a cada ano são vendidos cerca de 3 milhões de cópias (se for assim considerado, essa marca já passa de 380 milhões e não 365 como está no artigo).
Comentários irônicos percebidos em toda a matéria atestam parcialidade e valorizam opiniões pessoais próprias dos jornalistas em questão, nota-se inclusive acentuado despeito e principalmente desrespeito pela obra da banda. Quero destacar que apesar de serem suecos, o inglês utilizado em suas canções absolutamente não é ‘standard’, no conjunto da obra deles existem letras complexas e bem escritas, bem amarradas aos arranjos modernos para a época e aos vocais perfeitos de Agnetha e Frida. Basta procurar conhecer um pouco o trabalho da banda para perceber isso de forma clara.
Continuando, o título do álbum lançado por Agnetha em 2004 é “My Colouring Book” e não “My Coloring Book”. Percebe-se ainda uma ironia de extremo mau gosto na seguinte passagem: “...ao príncipe suíço Ruzzo Reuss, que (feito uma canção do ABBA) morreu de câncer em 1999”. Não se respeita nem mesmo a memória de um ser humano... Frida também não gravou nenhum disco intitulado “The Sun Will Shine Again” em 2004, este na realidade é o título de uma canção cantada por ela no álbum do ex-Deep Purple John Lord (o nome do álbum é Beyond The Notes, ok?). Vale salientar que ela foi especialmente convidada para participar das gravações pelo próprio John Lord, e que este fato constituiu enorme honra tanto para ele quanto para ela.
Quanto a Bjorn e Benny, eles nunca insistiram para tornar suas canções em hits. Fizeram um trabalho perfeito, o sucesso foi conseqüência natural e se perdura até hoje é porque existe qualidade nele. Não colou como cult, em 1992 (na época do lançamento da coletânea Gold, que já vendeu cerca de 27 milhões de cópias e continua ainda hoje nas paradas mundiais mesmo após 16 anos do seu lançamento) não se pensava em tamanho sucesso para uma banda que 10 anos antes havia dado por encerradas suas atividades. A banda retornou à mídia com força e sua popularidade só aumenta com o tempo.
ABBA jamais se impôs como voz de “minorias oprimidas e eufóricas”. Sua música conquistou o mundo e arrebanhou fãs de todas as idades, nacionalidades, orientações sexuais, credos religiosos e raças. O fato é que o repertório da banda agrada a gostos diversos e tamanha repercussão não poderia se dar apenas no âmbito restrito em termos numéricos (em comparação à população total) de grupos culturais como o GLBT (o qual merece todo o respeito como qualquer outro grupo social), números grandiosos de vendas e popularidade só podem ser compreendidos quando se admite a possibilidade de pessoas diversas entrarem nessas estatísticas.
Quanto ao museu, quem está por trás é o casal Ewa Wigenheim-Westman e Ulf Westman e não Bjorn Ulvaeus e Benny Andersson. Segundo eles “O ABBA aprovou o projeto e disponibilizará material para o museu, mas não está envolvido de outra forma”. Não se trata, portanto, de fúria de reciclagem, mas de uma justa homenagem para uma banda que conquistou o mundo com letras que falam de amor, amizade, liberdade, alegria, esperança e por que não? com pitadas de sensualidade às vezes. Quanto à listinha das mais pegajosas, é algo que não dá pra comentar mesmo, vemos apenas a exposição de gostos pessoais e não uma crítica bem construída.
Concluindo, quero apenas solicitar para que na próxima vez que forem comentar o trabalho de algum artista, não só do ABBA, que tratem com respeito sua obra e guardem opiniões pessoais para si mesmos. Antes de tudo estamos falando de pessoas, de seres humanos, e não de máquinas.
Agradeço a atenção, e tenham um bom dia!